sexta-feira, 23 de julho de 2010

Olhar frio

de Cecílio Purcino

Hoje pela manhã,
Ao acordar,
Pensei em você.

Pensei em você como a um jardim,
Com flores de todos os tons a embelezar o solo,
Tal solo vermelho e fértil como os meus pensamentos,
Com um gramado todo brando e suave,
E com rosas vermelhas em volta,
Distribuídas pelos canteiros pérfidos e nulos,
A seduzir os olhos palpitantes e as mentes caiadas.

Hoje pensei em você!
E pesei em você, com um sorriso crepuscular,
Como sempre foi e sempre será,
E com os olhos a olhar na direção do horizonte
Com as mãos na cabeça a se
Preocupar com o entardecer da idade,
E a pensar sobre a vida, no passado, no futuro,
E no presente que somos um para o outro.

E pensei em você logo hoje pela manhã,
Da mesma maneira que se pensa em um céu estralado,
Cheio de estrelas e nebulosas a ladrilhar um caminho
Ou a um sorriso talvez,
Ou a um guerreiro na lua, a acompanhá-la na
Interminável disputa com o sol
Pelas manhas extasiadas.

Eu pensei em você...

E agora, ao fim da tarde
Depois de ter te encontrado
No horário combinado,
E que ficou em mim marcado,
Voltei a pensar em você.

E dessa vez,
Não como o resplandecer do sol a pegar-se nas têmporas
Ou nos braços, nas pernas e nos corpos tramados
Aquecendo os nossos corações,
Mas com um olhar frio e cinzento
Vindo de uma enorme frigidez
A tocar minhas mãos.

E por termos um dia as entrelaçado,
Mesmo que tenha sido apenas por um momento sequer,
Entre os cumprimentos e as saudações,
É a razão pela qual contive minhas lágrimas.

E mesmo assim, ainda não sabendo
O porquê de tudo,
Penso no que poderia ter sido,
E entendo que talvez,
Os meus maiores segredos
Tenham destruído a nossa melhor relação,
Aquela de nos olharmos e sorrir.

Dentro do meu coração arrumo os meus destroços,
Eu choro, sobre a sua imagem que brota e me consome.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Flores, cravos, rosas e espinhos

de Cecílio Purcino

Nem tudo são rosas em meu jardim,
Sempre há alguns cravos esquecidos pelo campo
Quando estou apenas a conversar de flores.
E só os percebo, quando entro no gramado
E passo as mãos pelas ervas
E me firo com os corpos que
Entram na palma da minha vida
E vejo o tamanho dos espinhos
Que há dentro da beleza.

É nesse momento que as flores
Murcham e perdem sua inocência,
Assim como eu, refletindo o tempo perdido
Ao longo da forte chuva que deságua em meu coração.