terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A erva mais amarga

de Cecílio Purcino

A cuia está pronta sobre o banco da praça.
Eu a olho e apego!
A água quente, derrama sobre a
Erva das lembranças
E a noite, está fria como
Nunca estivera antes.

Então levo a bomba à boca
Para dar o primeiro gole,
(para dar todos os goles)
A garganta se esquenta enquanto
O gosto amargo da erva invade o peito
E em silêncio o caração se exprime.

O casaco de linho ganhado, aquece os braços,
Aperta o corpo, aperta a alma.
Desejo inenarrável de engolir
O passado escaldado na boca
E de não travá-lo nos dentes.

A brisa fria bate no rosto e
A garganta se esquenta novamente
E então, eis que me vem uma simples pergunta:
Porque esse ar que bateu na minha cara foi tão frio?
(“há perguntas que não merece respostas, apenas sentirmos”)
Sentir-me frio? Jamais!

Ops! Agora foi a língua que queimou,
Com a água quente que aquece apenas
A garganta e nao mais o coração.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Um pequeno Beija Flor

de Cecílio Purcino

Na Europa, não diferente do meu Brasil,
Há cravos, rosas e muitas flores.

E essas, as flores, há de todas
As formas, gêneros e tamanhos.
De pétalas brancas, amarelas e rosadas
Com ver de olhos, azuis e castanhos.
(Mas sempre lisas)
Na Europa, não há tricoma nas flores
E seus corpos são feitos de carne.

Algumas são endêmicas da França
Outras da Itália e muitas são da Alemanha,
Mas uma coisa não há de se
Queixar e nem de ter dúvidas.
Todas são belas.

E por isso,
Todos os dias, com o passar do tempo,
Eu tenho me deparado cada vez mais
Com uma verdade irrefutável,
Como a pureza de um só diamante.

Eu tenho me transformado em
Um pequeno Beija flor.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Parabéns Inês

de Cecílio Purcino

Azul, verde, amarelo, laranja.
Essas são as cores do arco-íris
Formado de balões no varal
Entre duas palmeiras.

As pessoas sentadas no gramado
Os salgados, os doces as bebidas,
Tudo isso era o que marcava,
Uma data,
Uma emoção,
Uma serenata.

Era dia de paz,
Não tinha chuvas em lágrimas
Nem desgosto em outono,
Eram apenas sorrisos em
Um dia comum de verão.
O sol lá em cima,
A música ao meio
E o gramado verde.

Era alguém ficando mais velho
Era a experiência se plantando na Terra.
Era dia de azul, era dia de ver,
Era dia de amarelo, era dia de nascer.

E no fundo do horizonte
Entre duas palmeiras
Estava escrito:
Parabéns Inês.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Uma garrafa vazia

De Cecílio Purcino

Uma rolha, "Muralhas de Monção"
Tampa a garrafa de vinho
Que esta sobre a mesa de jantar.

A garrafa, ali, imóvel sobre
A luz da lua, já não lhe cabe
Mais nada.
Nada mais.
Não tem sumo,
Não tem vinho,
Só sangue talvez.

Tudo já foi bebido, provado
E jogado fora...

Lá dentro da garrafa
apenas o ar,
Aquele mesmo daqui fora.

E lá dentro,aprisionado pela rolha
O ar briga
Com todas as forças da natureza.

Um dia, o tempo acabará com a rolha,
Acabará com o vidro, acabará com tudo,
E o ar que está lá dentro da garrafa se
Libertará tornado tufão
E soará livrimente pelo espaço que tanto busca.

Oh! E disso é que já me sabia,
Desdo do primeiro momento que comprei a garrafa,
Desde o primeiro momento que consumi o vinho e
Desde o momento que vi.

Que o ar estava sufocado
Dentro da garrafa tampada pela rolha
"Muralhas de Monção".

Vasto, rastro

De Cecílio Purcino

Levantei,
No banco ficou:
Meu vasto, meu rastro.

Caminhei, corri
cansei...
Agora chego em casa
E durmo.

É so fechar os olhos para o mundo.

Tinta pobre

De Cecílio Purcino

Acho que por hoje é só!
Dessa caneta não sai mais nada.
Nem letras, nem sílabas, nem palavras,
Nem frases, nem orações.
Nem versos, nem estrofes, parágrafos
Nem canções.

Não sai mais nada,
Apenas a vontade de querer expressar
Algo que ainda a tinta não consegue
Escrever no papel.

O outro lado bom

De Cecílio Purcino
adaptação de uma frase já vista

Existe dois lado!
O lado Bom e o outro lado.
Que lado é esse? O filho pergunta pra mãe.
O lado BOM e o lado MOB!
O menino fica com a cabeça
A ver sinais de interrogação.

A mãe percebe e retruca:
Qualquer lado que escolher será
uma boa escolha.
Dependerá de como você vê as coisas.

Noite longa

De Cecílio Purcino

Daqui meus olhos veêm:
Dois homens se beijando,
Uma mulher pedindo esmolas
E um casal caminhando.

O que mais meus olhos veêm?
Depois disso, somente
Um céu sem estrelas
E as lágrimas no chão.

Poema borrado

De Cecílio Purcino

Hoje chorei!
Chorei feito menino carente,
Sem papel noel e sem presente.
Sentei no banco da praça de Lisboa
E chorei!
Chorei; chorei; chorei
Chorei, Mas chorei
Tanto,tanto, tanto,
Que as lágrimas acabaram
Manchando as letras desse poema.

Agora! terei que fazer outro.

Dias normais

de Cecílio Purcino

Me lembro de ter passado
Por essa rua esses dias.
Tudo estava como esta agora,
Calmo como uma lembrança.

As pessoas nas ruas,
Crianças correndo,
E os idosos a reclamar
Do irreclamável.

Nos bancos,
Beijos soltavam seus estalos,
Nos gramados,
O violão acompanhava os jovens.

Éh! pelo que vejo, aqui em Portugal
todo dia é assim:
Tudo muito tranquilo e sereno.
Menos o meu coração abrazado
pela saudade dos ares
que no Brasil deixei.

Arrebenta pulmão de carne osso
Que não quer parar de respirar.

A ação do verbo

de Cecílio Purcino

Ontem passei por essa praça
e estava sem palavras na boca,
nos olhos e nos ouvidos.
Apenas na ponta da pena e
no verso do papel.

Hoje, elas saltaram dos olhos,
Passaram pelos ouvidos
E sairam pela boca.

Era a vontade de verbalizar a ação:
Te quero, Te quero, Te quero

A distração da noite

de Cecílio Purcino

A bola quica, quica a bola
E a bola quica.
E sem perceber , ela passa
Pra lá e pra cá a quatro pés,
E ao longe,junto a bola
Meu olhar compenetrado,
Lá no fundo no horizonte escuro
Da praça,percebe apenas isto.

Três rapazes, um é o bobo,
E no chão, a bola que quica,
Rola e quica, por debaixo dos
Olhos do mundo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Morte em vida

de Cecílio Purcino

Há tempos atrás eu era doente e não me sabia,
Era meu coração que tinha pouca alegria.
Os ossos? Esses já não me cabiam,
Já não resistiam nem mesmo aos cálcios que lhes faltavam.
O fígado? Já não era mais como Prometeu.
O pâncreas? Estava completamente básico,
Os pulmões não tinham mais por quem respirar
E o cérebro já não tinha nem mais uma lembrança sequer.
Tudo já estava em plena morte.

Primeiro, veio o cansaço dessa vida cotidiana,
Depois o êxtase imprevisível do prazer e das loucuras
E depois a falta de ar nos pulmões
E o horror de não poder mais respirar.
Essa era a parte que mais me doía,
Não ter por quem respirar.

Sem ti? Nada senti.
Nem percebi quando os órgãos
Pararam de funcionar
E o coração virou pedra,
Barro ou cinza talvez,
E parou de bater.
Fiquei morto em vida,
Zumbi.

Ia aos bares para viver e mais nada.
E levava para casa o pouco ar que sobrava,
Preso no cérebro e nos brônquios.
E com isso, tentava eu ser feliz,
Mas o coração, esse me faltava.

Há muito tempo atrás eu fora doente e não me sabia.
Não sei se era câncer, tuberculose ou rinite, não sei,
Mas há muito tempo fiquei doente e não sabia.
Os sintomas me davam agonia.
Era falta de ar e dores nas costas
De levar meu passado amarrado nos pulsos.
Eram dores nas pernas de carregar meus despojos
E febre alta para com os corpos alheios.

E essas únicas lembranças eram
O único ar que me sobrava,
Como fumaça saindo do tabaco,
E pondo manchas na parede.

Mas hoje, algo me faz bem
E me sinto melhor,
Veio como morfina na veia
E calcificante nos ossos,
Amoleceu meu coração outra vez
E o deixou virar um só diamante.
Fez com que meus pulmões tivessem
O ar necessário para que eu voltasse a
Respirar tranqüilo e em silêncio,
Como criança dormindo ao fim da tarde

Meus órgãos voltaram a trabalhar
E o meu cérebro a fixar as lembranças,
E tais lembranças que para mim é tudo.
Hoje, eu as vivo com uma nitidez que serra os meus olhos,
Eu as vejo com o coração e as respiro com o peito,
Para que eu não esqueça os
Momentos em que vivemos juntos.

E depois de ter passado tanto tempo doente,
Parado, estático nessa minha
Cotidiana vida de aventureiro,
Sei o quanto é bom ter você
A passar pelos pulmões,
Percorrendo o miocárdio
E parando no hipocampo de
Minhas memórias.

E esse ar de que tanto falo e respiro,
São as minhas lembranças que tenho por ti,
Latejando nas minhas têmporas.

Esse ar veio do Sul e ao mesmo tempo em
Que me sinto aquecido por ele,
Me fazendo dormir em teus braços,
Ele me parece frio e racional.
E talvez por eu ter ficado tão doente
Há tanto tempo, essa foi a virtude
Que devo já ter me esquecido.

Já não me cabe mais a razão no corpo nem na alma,
Já não me cabe a razão nas palavras,
Já não me cabe a razão em mais ninguém
E mais nada,
Apenas vivo,
O mais intensamente,
O mais fervoroso possível,
Tentando fazer com que todo esse frio ar
Me aqueça os pulmões e
Me faça esquecer que um dia
Eu quase morrera.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Olhar frio

de Cecílio Purcino

Hoje pela manhã,
Ao acordar,
Pensei em você.

Pensei em você como a um jardim,
Com flores de todos os tons a embelezar o solo,
Tal solo vermelho e fértil como os meus pensamentos,
Com um gramado todo brando e suave,
E com rosas vermelhas em volta,
Distribuídas pelos canteiros pérfidos e nulos,
A seduzir os olhos palpitantes e as mentes caiadas.

Hoje pensei em você!
E pesei em você, com um sorriso crepuscular,
Como sempre foi e sempre será,
E com os olhos a olhar na direção do horizonte
Com as mãos na cabeça a se
Preocupar com o entardecer da idade,
E a pensar sobre a vida, no passado, no futuro,
E no presente que somos um para o outro.

E pensei em você logo hoje pela manhã,
Da mesma maneira que se pensa em um céu estralado,
Cheio de estrelas e nebulosas a ladrilhar um caminho
Ou a um sorriso talvez,
Ou a um guerreiro na lua, a acompanhá-la na
Interminável disputa com o sol
Pelas manhas extasiadas.

Eu pensei em você...

E agora, ao fim da tarde
Depois de ter te encontrado
No horário combinado,
E que ficou em mim marcado,
Voltei a pensar em você.

E dessa vez,
Não como o resplandecer do sol a pegar-se nas têmporas
Ou nos braços, nas pernas e nos corpos tramados
Aquecendo os nossos corações,
Mas com um olhar frio e cinzento
Vindo de uma enorme frigidez
A tocar minhas mãos.

E por termos um dia as entrelaçado,
Mesmo que tenha sido apenas por um momento sequer,
Entre os cumprimentos e as saudações,
É a razão pela qual contive minhas lágrimas.

E mesmo assim, ainda não sabendo
O porquê de tudo,
Penso no que poderia ter sido,
E entendo que talvez,
Os meus maiores segredos
Tenham destruído a nossa melhor relação,
Aquela de nos olharmos e sorrir.

Dentro do meu coração arrumo os meus destroços,
Eu choro, sobre a sua imagem que brota e me consome.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Flores, cravos, rosas e espinhos

de Cecílio Purcino

Nem tudo são rosas em meu jardim,
Sempre há alguns cravos esquecidos pelo campo
Quando estou apenas a conversar de flores.
E só os percebo, quando entro no gramado
E passo as mãos pelas ervas
E me firo com os corpos que
Entram na palma da minha vida
E vejo o tamanho dos espinhos
Que há dentro da beleza.

É nesse momento que as flores
Murcham e perdem sua inocência,
Assim como eu, refletindo o tempo perdido
Ao longo da forte chuva que deságua em meu coração.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Veja-me

de Cecílio Purcino

Minha vida é algo que tenho de mais natural
E que não compartilho com ninguém!
Se há alguém para compartilhar, não o faço,
Se há alguém para conversar, não converso.
Assim o dizem por ai.
Mas se não a divido,
Não é porque eu quero que seja assim,
São as pessoas que não dividem comigo
A beleza da naturalidade do ser
Diferente, conspícuo, distinto e notável que somos.
Existe algo mais belo e mais puro que
Ver os acontecimentos da vida como
Tudo o que é de mais natural?
Ainda mais quando a vida é do outro e não a minha.

E é por isso, que eu acho que errei a estrada do céu,
Perdi- me pelo caminho do amor.
E se os vejo, apenas os comprimento,
E há quem diz que esse é o caminho mais curto.
Mas até a estrada terminar na porta do casebre,
Ainda faltam muitas pedras pelo caminho.
Mas com pedras ou sem pedras eu as com partilho.

Mas como eu disse e reforço!
Não tenho nada a esconder
E nada a temer,
São as pessoas que têm muito
O que me enxergar.
Eu compartilharei contigo
O que ver de em mim
E cinzas na pele
E vermelho nos dentes

E se não quiseres ver
Nunca compartilhará nada,
Pois compartilhar vem de como
Partir o pão que há sempre de bom
Em todos nós.

Então só partirei o pão contigo se deixares
A faca passar na garganta,
Se perderes o medo de ver-me,
Se deixares a mordida descer-te,
Se quiseres comer o pão que o diabo amassou,
Pois com ele vem sempre a fúria e o desejo
E é tudo que está dentro de mim.

Portanto, abra-me o pão, passe a manteiga
E me coma, para sentir meu passado dentro de ti.
E se não gostares do gosto,
É porque talvez para ti faltasse algum tempero,
Ou talvez passasse na pimenta do reino que é dos céus,
Ou ainda talvez porque sentisse sabor de vida insossa,
Sem anseio, sem sal e açúcar,
Sem aspiração e sem nada.
Apenas o gosto de manteiga nos dentes.

Engula-me! Engula-me a frio
E encare o que eu sou
E seja quem tu és!
Não me espere para ditar seus desejos e
Nem para que eu te fale
O que deves fazer da minha vida -
Pois é coisa que você acha que é sua.
A minha vida, você acha que é sua.
E mais nada!
Mas acha porque sempre a procura
Pelos cantos, pelos becos, pelas bocas.
Se parasse de procurar,
Talvez encontrasse a sua própria vida,
Calada, morta, moída,
Quase que perdendo o sal e o gosto.

Se queres compartilhar minha vida,
Venha ser eu mesmo
Nos alicerces dos corpos,
Na mobilidade dos átomos,
Na essência do ser,
Nos desabafos e nas dores,
Na luz e na escuridão,
Nessa grande estrada tortuosa da vida.

sábado, 12 de junho de 2010

Na morada dos dias

de Cecílio Purcino

O que mais posso esperar de um dia que é dia
Apenas para os outros e nada para mim?
De fato, esse dia só não é nada para mim
Porque não tenho com quem dividi-lo,
Ou melhor, tenho e não quero,
Quero e não tenho.

Na verdade, não tenho
E sou eu que sempre quero me tapear,
Como tapioca no fogo, dizendo que estou bem,
E se tá pior é por que
Eu deixei que fossem.

E se não tenho alguém, é porque mereci.
Não é tão fácil ser assim como eu,
Dia após dia, ano após ano e nada de novo.
Devo ter jogado pedra na cruz e água nos santos,
Devo ter sido aquele que a vida não elegeu,
Devo ser aquele que ninguém escolheu,
Mas fui aquele que sempre escolhi.

E é porque eu escolhi que estou sempre assim,
Sem ninguém para entregar o presente,
Sem ninguém para falar do passado
Sem ninguém para ter um futuro,
E ninguém para comemorar
A páscoa, o natal, os aniversários e
O dia dos namorados.

Hoje estou me sentindo assim, solitário aos milhares,
Sozinho aos prantos e fadado a serpentes,
Pois me passo apenas na cabeça dos outros e
É o que apenas faço.
Ser algo que esta apenas na cabeça dos outros!

E verdade e sem mito,
Se não é assim e não menos assim,
Então me diga!
Por que ninguém tem olhos para mim?

Me diga, então!
Por que tudo passa e sempre passa,
Nada mais que a intenção?
O porquê...

Bom, hoje já faz dias que não tenho dias,
Já faz anos que não sou namorado,
Já faz décadas que não sou aceso,
Já se fez eterno,
Que sou uma tocha fria na concha vazia do amor.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Que tristeza é essa?

de Cecílio Purcino

Que tristeza é essa no meu coração que não para?
Não é a falta dos teus olhos a entrar em mim
Com tua chegada ao recinto,
Nem a falta de suas mãos factícias
A entrelaçarem às minhas,
E nem de tua boca a ditar os meus deveres do dia.
É o teu desejo íntimo, que é diferente do meu e
Que nos afasta pouco a pouco.

Que tristeza é essa no meu coração que não para?
Não é a falta dos teus lábios em minha boca,
Nem de teus braços em meu corpo e
Nem de tua língua em meu pescoço.
É a vida, que escolheu as pessoas a quem devo amar.

Que tristeza é essa no meu coração que não para?
Não é a falta de teu sussurro no pé do ouvido,
Nem de teu humor que me compraz ao fim do dia
E nem de teus dedos que não me transformam em harpa e lira.
É a razão, que sempre me segura para não me perder
Diante de ti.

Que tristeza é essa no meu coração que não para?
Não é a falta da sua presença que acontece por vezes ou outras,
Nem dos encontros rápidos e repentinos e
Nem de suas dúvidas que me ensinam
A falar de coisas que só outros sabem lá fora.
É porque ouvi hoje você listar seus amores
E o meu nome não estava entre eles.

Que tristeza é essa no meu coração que não para?
Não é a falta dos cabelos que não tenho,
Nem de teu belo corpo intocável,
Nem de teus belos olhos a me olharem de
Mancinho pelo reflexo do espelho e
Nem de teu sorriso a me pedir conselhos.
É o medo, de queimar essa linha
Que nos une e que nos molda.

Que tristeza é essa no meu coração que não para?Ah! Que tristeza é essa?
Não é a falta das tuas brincadeiras durante o dia,
Nem do gelo que tu me dá para por em águas quentes e
Nem da despedida com teu adeus no fim de
Uma longa tarde de exercícios.
É a dor, da vontade de saber
Se ao menos sequer te terei por um dia.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Casados, separados, mas unidos

Poema feito a dois de
Cecílio Purcino e Rui Cortes

O amor impossível, entre um homem mais velho e uma garota menor de idade

Eu acho que casaremos juntos,
Talvez unidos,
Talvez juntos e unidos,
Talvez nos casemos.


Cabelos brancos,
Corpo pouco esguio,
Pouca força,
Mas casados.


Sim, sempre me arrependi de ter te deixado passar
Como o rio que sempre passa, passa e passa
E de nunca ter aceitado o sabor da carne que tanto amo,
Os delírios constantes que tanto tenho,
E a beleza que tanto me atrai
E que dá movimento de mais aos corpos.


De repente nem me conheço mais,
O espelho que outrora refletia uma face jovem
Agora soletra um homem de algumas primaveras
Pouco feliz, muito feliz, amado, odiado
Contraditório em mim e nos outros.
Insisto no amor
Porque acredito nos lábios que me tocam,
Me deliram,
Me fascinam,


Mas eu te reconheço, por fatos existentes,
Pelas águas correntes,
Que passava por ti
E que agora deságua na primavera que tu és,
E é porque você é primavera hoje
Que eu sou outono sempre,
Para nos completarmos pelos anos
Para sermos todas as estações,
Para sermos frios no verão
E quentes no inverno,
E sermos aquilo que nos uni nesse dia inóspito
E distante que estamos um do outro.


Ainda queres meu beijo?
Ainda quer meu fogo?
Por que me indagas maldito amor?
Não percebe que o passado
Destrói, corrói e me machuca
Deixe-me voar, deixe-me ir
Liberta-me de tua sombra
Preciso partir....


Parta ti, não tenha medo e costume da vida,
Não tenha vida pelo medo de viver,
Não tenha medo de me perder.
Se te queres partir. Então parta ti
Em duas partes se possível,
Mas deixe uma delas para me completar no final
De minha vida, pois se formos nos casar,
Que eu tenha pelo menos a metade do
Seu beijo para levar com a morte .


Cabelos brancos,
Corpo pouco esguio,
Pouca força,
Mas casados...
Fique com minha outra parte, minha outra metade,
Fique também com meu silêncio
Que eternamente gritará de amor
Nas entranhas da Terra.
Amo-te como nunca amei ninguém,
Desfaleço-me, esqueço de mim e do tempo...
Deixo contigo um beijo, uma lágrima e um murmúrio de Adeus...


Eh, eu acho que casaremos juntos
Talvez unidos,
Talvez juntos e unidos,

Eu com a sua metade e você dormindo.

domingo, 23 de maio de 2010

Formula poética

de Cecílio Purcino

O poema é a expressão matemática
Mais bela que já vi em toda minha vida.
Com ele podemos somar amores, subtrair rancores,
Multiplicar amizades e dividir felicidades.

Podemos montar a inércia de nossa vida estática,
Calcular a força centrípeta que age dentro de nós,
Acharmos as coordenadas da reta que devemos
Seguir na vida e na morte, contudo após a morte,
E multiplicarmos as juras de amor e promessas compostas.

Ele é o desconto não contado de uma vida não falada,
É a taxa equivalente de nós que desatam em
Funções modulares do ser imutável de
Áreas e volumes constantes que somos.
É o produto notável de uma relação
Métrica entre dois amores.
É a teoria de todos os conjuntos e todos os rancores,
É a lei de ação e reação,
A força normal da mais
Normal força atraente dos corpos.
São as leis de Newton se expressando
De várias maneiras do momento.

O poema,
É o triangulo amoroso entre a, b e c,
O anseio de uma hipotenusa,
A somatória de alguns catetos,
O multiplicar de nossos dedos
E o entrelaçar de nossas mãos.


É a visão exponencial de cada sentimento,
A relação entre corpos,
A razão entre o desejo e a vontade,
A álgebra momentânea de todos demonstrados
Nas mais raras expressões geométricas.

É quando fatoramos os limites do
Nosso consciente ciente de tudo que
Há entre nós e retalhos
E derivamos nossos problemas até dar zero.

É a matriz quadrada de inúmeros desejos,
Equações do primeiro, segundo,
Terceiro grau até aos quarenta de febre,
Fogo de viver, de se expressar em forma
Mitológica através dos cálculos cartesianos.

É o binômio afetuoso de Newton e Beatriz, Tales e Pitágoras
É Bhaskara, regra de três, de dois
E até de um pensar mais simples.
É vida somada,
É a fúria multiplicada,
É dúvida dividida,
É Amor no quociente,
É a grande esfera da vida dimensionada
Em uma escala de tempo sem fim.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Almirante coração

de Cecílio Purcino

Almirante ranzinza
Assim se tornou
Esse coração de cinzas.

domingo, 7 de março de 2010

Eterna criança no ser

de Cecílio Purcino

Hoje pela manhã tive uma conversa com Deus.
Estava revoltado pela versão renovada da Terra.
Olhei para o céu, onde sua casa se faz nuvens e estrelas
E os pássaros a serem campainhas com voz de cordeiro que tu és,
E chamei a divina trindade pela excelência que são.

Presença potencial da ciência,
Eis me aqui na terra e vós em toda parte,
Veja eu, que de Ti chamas pelo mundo
A fazer mortos pelos cantos
Água pelos sábios e fome pela vida,
Estou aqui no olhar para ouvir de vós que são três.

O ar continuou inerte,
Os grãos de areia relutaram
Em se movimentar pelo solo,
E as árvores balançaram não mais do que deviam.
Nada mudou ao meu redor,
O criador não escutara a criatura.

E mesmo sem me dar a plena atenção,
Comecei a rosnar palavras
Pelo fútil da vida e à sombra da morte.

Queria saber o porquê
De tantas nuvens no céu,
De tantos rastros no chão,
De tantas estrelas no universo
De tanto ódio em canção.

De tanto sangue até ser em coágulos,
Por vínculos perdidos,
De tanto serem centrifugados
Para parecerem unidos.

Foi então, que o vento esbarrou se em mim como a permitir-me
O direito entre os homens e a justiça entre os aflitos
De conversar com a terceira pessoa do volátil.

E do verbo me fiz frases!

Revoltado, esbocei-me em palavras e literatura,
E disse para ele encarando em seus olhos -
Que são feitos com o brilho do sol e a relva da noite:

Ah, se eu pudesse usar seus corpos -
Potência, Ciência e Presença -
Consertaria no mundo os seus erros,
E começaria por tudo nesse mundo.

Não vi de Ti a plena sabedoria
De que tanto falam de Ti,
De que tanto de Ti evola,
De que tanto de Ti abusam,
De que tanto de Ti não cri e nem criei.
E de que tanto de Ti...
Ah, de que tanto de ti preciso
Para mudar o mundo que vejo.


Mas o mundo para Ti é
Muito complexo para o meu gosto.
Tudo muito misturado, água e terra,
Tudo muito misturado, ar e fogo
E nada de objetivo.
Tudo muito diferente para ser tudo muito igual.
O igual é que resolve tudo.

Se for para eu pontuar os seus erros de criação
Começaria logo pelo planeta.
Aproveitou-se da tinta do cosmo e da massa do cronos
Para misturarmos até tecer a todos.

Que falta de criatividade!
Qualquer um com a potência que Tens de criar
Poderia muito bem criar da forma que se foi criado,
Era apenas pegar a receita de vida e de amor
Que existe em todos e misturar-se em tudo.

Mas esse mundo sem voz não muda, nada muda,
Salvo as pessoas é claro, que de mudas se fazem e não são.

Se eu fosse Ti, na santíssima trindade e verbo no ser,
Teria feito a Terra com mais criatividade.
Teria feito toda de água por exemplo.
Sim, um mundo todo d’água.
As ruas, as casas, as árvores,
Os postes, as luzes,
Os gatos, os cães, o caos,
Os secos rios e os rios sujos que hoje são feitos
D’tudo menos d’água,
As rochas e as matas.

Os seres seriam claros em sua essência
E límpidos como os riachos
Que vão à beira das estradas,
Como as gotas do orvalho,
Como a brisa da noite,
E como a relva das praias.

Seria fácil amar em toda parte,
Pois os desertos não existiriam
E seus cristais de areia se dissolveriam
Como éter na água,
Para fazer-se aroma e perfumes.

As d’unas? Seriam d’águas,
E os homens fundiriam com os outros homens
Para sentir o prazer de ser o outro
Ou de ter o outro dentro de si
A fazerem-se tudo compressa de água quente.

Mas, tudo de água é tudo muito
Flácido, flexível, muito instável.
Onde estaria a fortaleza das plantas,
A rigidez das rochas e as posições firmes dos homens?
O mundo seria um éter no verbo do nada.

Seria melhor um mundo feito todo de ar.
Porque o igual que é importe,
E repito com maior firmeza e clareza,
O diferente é que desatam entre nós as brigas.

Tudo seria feito de ar!
O Mar desfaria em cinzas de vento
E tornados de emoções para
Fazer da relva da noite e orvalho
Das plantas, brisa e canção.

Não precisaríamos de estradas,
Não precisaríamos de roupas,
E de casas para trancafiarmos
A verdade que há entre quatro paredes.

Seriamos todos do mesmo pai,
Seriamos transparentes como devemos ser,
Seriamos ar,
E íamos ser voláteis, sensíveis,
E tudo seria melhor - pois no ar as
Mascaras não se sustentam por si,
E tudo ser ia ser infinito.
Ser-e- ar seriam,
O Sopro divino
O Hálito almejado,
O Vento soprado.

Não existiria o vácuo, não existiria a luz
Não existiria a cor que nos molda,
E a beleza que seduz.
E o mundo feito somente de ar
Seria tornado de erros.

Então deveria ser todo de terra.
Tudo seria feito de constante terra,
Tudo seria de areia,
E assim os seres humanos
Não chamariam humanos,
Mas sim sereias.

As d’unas? Continuariam d’unas e não d’águas,
E as geleiras, desaguariam em grãos da imortalidade.
O ar? Não existiria o ar, tudo seria constante e maciço,
Seria um bloco, seria um..., seria uma..., seria caixa fechada,
Ninguém se ver-ia.

Mas todos se trincariam muito fácil,
Quebrar-se-iam por vezes ou outra
E por qualquer coisa.
Atritariam conforme a música,
Conforme a fome
Conforme a sede,
Conforme com a vida que leva,
Conforme que somos, rochas e pedras.
E tudo seria uma extrema rigidez.

O mundo deveria mesmo então,
Era ser feito de puro fogo.
Tudo a se queimar pelos cantos,
Oxigênio a entrar em combustão,
Sabedoria eterna no ódio e no amor,
E cabeças em labaredas feitas
Em guilhotina de traição.

O combustível da paixão
Seria éter no ar para ser fogo na vida,
E tudo seria purificado.
As chamas seriam vida vivida,
E o presente, chamas passadas
Pela frente de nossas caras,
Por fora do corpo, e não por dentro de nós,
E viveríamos aquecidos somente
Pelo fogo eminente
Que emana da eterna
Consciência de ser.

Não existiriam queimadas pelas florestas,
Pois não precisaríamos de carvão
Para aquecermos os corpos na noite frívola da diversão.
Não existiria a distinção do branco, nem do preto
Nem do escuro como sou e nem do claro como são,
Apenas a cor da verdade de sermos
Essas chamas extintas em nós mesmos.

Mas com fogo, tudo passaria,
Nada seria permanentemente eterno.
Tudo seria eterna mudança, e as lembranças de minha
Juventude perdida em tempos de alegrias noturnas
Seria esquecimento.

De repente uma criança passou por mim a correr pela rua,
Não se deu muitos metros e
Seus joelhos foram de encontro a Terra.
A Água saiu pelos seus olhos,
O Ar se fez berros em arranjos
E o Fogo abrasou seu coração a procura da mãe.

Ela se aproximou da criança de Deus,
Abaixou-se e levantou-o todo inocente.
O fez um carinho todo maternal,
E naquele momento, pude ter certeza que
O mundo se fez em perfeita harmonia.
Tudo estava certo em seu fluxo.
O Ar, a tomar o seu lugar nos pulmões ofegantes,
A Água, em seus olhos em forma arco - íris,
O Fogo, em seu coração aquecido,
E a Terra, a fazer porto seguro no colo materno.
Tudo era eterno amor.

No mesmo instante, o raio do sol
Chicoteou as pétalas das rosas
E o pólen nutriu-se do eterno ar do dia,
Que agora se faz éter na vida.
Percebi que não era Deus que tinha errado,
Era eu, como homem que sou, errei no pensar.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O colecionador de Selos

de Cecílio Purcino

Tudo começou, quando entrei para trabalhar em uma instituição de ensino. Uma dessas instituições que ajudam os meninos a passarei em concursos. Sim, tudo começou nesse dia. O dia era como outro qualquer. O sol radiando focos de luz por todos os lados, as ruas movimentadas, o ritmo característico de cidade grande. As pessoas conversavam de suas dificuldades, outras riam de suas alegrias e várias choravam de suas tristezas e eu...E eu? Eu simplesmente estava vivendo um dia normal, ate o vê-lo. Sim, passando pelo enorme corredor das pinturas absurdas – assim que eu as chamava, pois até aquele dia não sabia o que era saber de sentimento - na sala de um amigo, algo chamas em mim a atenção. Em sua mesa cheia de lápis, e clipes destroçados pelo seu nervosismo ao conversar com pais de alunos, eu vejo em sua mesa uma correspondência. Ainda não tinha notado que não era o tamanho do envelope que me chamara à atenção, nem a letra forjada naquele grande envelope amarelo. O que eu realmente notara, era um pequeno Selo. Sim, um pequeno Selo, indicador de uma carta simples. Não tinha detalhes, não tinha cores vivas, e nem cores mortas, não tinha vida, era apenas apagado. Talvez fosse isso que me chamasse tanto atenção. Como um colecionador de selos que sou, até aquele momento, só tinha atração por selos vistosos, belos, que possuíam detalhes singulares e que para muitos, seriam valiosos pela sua beleza e não pela sua real importância. Esse Selo era diferente. Primeiro... veio à vontade de conhecê-lo, ver os seus detalhes quase inexistentes, a suas formas de ser, suas cores iguais a todas as outras cores, seu intuito de existir, ver por debaixo de sua imagens e sentir o tipo de papel de que era feito. Depois, veio à ansiedade de desvendá-lo, saber de onde tinha surgido, de onde veio, o porquê estava ali, em uma simples sala, marcando um simples lugar, sendo apenas um Selo qualquer. Depois a vontade de velo todos os dias, tocá-lo nem que seja apenas um momento, sentir sua textura inóspita e ingênua, como muitos dos Selos que tinha em casa, sentir o seu cheiro comum e ainda olhar para ele. E por fim, Tê-lo e Selo. Tudo isso, senti em apenas um segundo, em apenas aquele momento em que andava pelos corredores das pinturas absurdas. Tinha que conseguir arrumar esse Selo para minha coleção.
Decidi ir atrás dele pelos correios para descobrir mais sobre ele. Não encontrara nada! Já era um ponto positivo, pois o valor de um Selo se da pelo simples fator de ser único, ser singular em sua forma, em seu existir, e ser dono apenas de uma carta. Procurei sua imagem pelo correio eletrônico, pontos de comércios clandestinos e novamente nada! Ele era o selo perfeito. Os selos que eu tinha conseguido para minha coleção, eram Selos para mim perfeitos, pela sua beleza, mas não pela sua raridade. Esse? Somente ele existia na praça e não estava à venda, estava para ser conquistado. E pelo que me parecia, seria difícil consegui-lo. Os dias se passaram e também à noite, elas? Eu as vi muito bem passar, não dormira pensando em uma estratégia para entrar na sala de documentos da escola e roubá-lo para mim. Sim roubá-lo, o que tem de errado nisso, era apenas um Selo, e pela sua importância que estava a se tornar em minha vida, tudo valeria a pena. Deixá-lo naquela sala jogado, sozinho, indefeso, onde outros colecionadores poderiam cobiçá-lo e tê-lo, talvez por um fútil momento e ainda sem eu dar para ele o seu real valor, seria falta de ética da minha parte. As coisas de valor são para ser valorizadas e não jogadas para todos, mas todos que tenha o seu devido merecimento.
Certo dia, passando um carteiro a entregar cartas pelas ruas, tive a repentina sensação de ter visto a mesma singularidade que vira na escola. O medo momentaneamente tomara conta de mim. Imaginemos que fosse o mesmo Selo, como agora poderia ser apenas eu a possuir tal sonho. No mesmo momento pensara eu que fosse criação da minha imaginação fértil. Estava talvez ficando obcecado. Talvez começara a ver em todas as partes sua imagem. Refleti melhor e deduzi que um selo desse valor, não ficaria a andar por ai dentro de um veículo de transporte tão simples a se mostrar para todos. Ainda mais, ser agora encontrado dentro da casa de muitos, muitos que nem ele mesmo o conhecia. Lógico, ele era apenas um selo e não pensava nisso. Depois da observação, vi que o fato era realidade, realmente ele estava ali, sendo entregue a outro. Não aceitei! Passei próximo, observei ponderadamente, e a verdade fincou o meu coração. Fui pra casa. Não podia aceitar! A noite foi longa e decepcionante. Pensei que talvez estariam duplicando esse mesmo tipo de selo por ai. Sendo vendido por migalhas, ou sendo trocado entre amigos. Trocado entre amigos.
No outro dia, imediatamente quando acordara da pequena noite em sono, fui as agências de correio que conhecia para ver se o encontrava. Conversei com vários colecionadores, alguns cambistas e outros qualquer, principalmente outros qualquer. Tinha recebido a pior notícia que poderia ter recebido. Vi com meus olhos o que não queria ver. Os correios já sabiam de sua existência e os colecionadores já o queriam tê-lo, e outros os já tinham tido e jogado fora. Muitos colecionadores, não são colecionadores de verdade, apenas desfrutam dos selos que possuem para dizer que já os tiveram e jogam fora. Talvez pareça que eu seja assim, mas até hoje de alguma maneira tenho os meus selos em casa, ou pelo menos em minhas lembranças.
Não importava mais, eu não o queria. Já não mais me valia, todos já o tinham. Pelo menos ao meu modo de ver, de enxergar as coisas como penso que são. Os dias cotidianos na escola voltaram a ser seguidos, depois de alguns meses, já não precisaram de meus conhecimentos na escola. Mas as noites eram difíceis de enfrentar. A frustração era grande, mas a vida de colecionar os selos tinha que continuar. Nesse período, ganhei tantos outros, e ainda tornei outros mais belos, mas nunca tive um tão singular quanto aquele. E hoje, eu vivo minha vida de errante e tento imaginar quantos colecionadores estão por ai, tentando ter o que um dia eu tive a oportunidade de possuir. E vivo!
Olho para o céu, uma manha ensolarada, carros pelas rua e pessoas pelas causadas, e a vida é bela.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

O tempo embebedou-se

de Cecílio Purcino

O tempo embebedou-se
Pegou uma garrafa de Château do vale no natal
E a tomou em três tempos.
Não deu outra e já estava cambaleando e tropeçando
Sobre tudo e a todos.
Ninguém reclamou de nada, pois o tempo é assim –
Sempre faz tudo e ninguém percebe.

Tempo depois ele estava comemorando a chegada do ano novo
Com duas taças de champagne Demoiselle
E uma de vinho seco.
Logo caiu de cama e ninguém viu mais falar do tempo.

Notícias e rumores só vieram dar-se do tempo no tempo de carnaval,
Quando o povo estava interessado em passar com o tempo,
Dançando, pulando, correndo e festando.
É a semana de carnaval e por isso o tempo é tão importante.

Sem perder tempo, o tempo novamente se embriagou,
Tomou toda cerveja que pode encontrar pela frente,
Comeu todos os petiscos e refinos que tinha direito
E entrou em coma.

O tempo parou no hospital da vida e ninguém mais via o tempo passar.
As pessoas só pensavam no tempo quando se lembravam
Das diversões, das brincadeiras e das emoções.

Não levou muito tempo e o tempo acordou, e dessa vez mais vivo.
Conforme o tempo foi passando pelas ruas, bairros, cidades e estados,
Ele foi deixando sua marca.
Era paixão desesperada, um sorriso que ele afagava,
A dama desiludida, o homem que prosperava,
A razão amargurada, o amor que aparecia, a morte que vingava
No barco que gemia, era a casa findada, era a festa arredia,
Era o encontro marcado, era a criança que nascia, no namoro ajeitado,
Na saudade que batia, eram parentes distantes, que tão pouco ele sabia,
Era o tempo brincando, bebedeira arredia.

Mas não deu muito tempo, e o tempo voltou
A trabalhar com seu relógio futurístico.
E o tempo trabalha...
Trabalha tanto que cansa
E depois descansa nas férias do meio do ano.

No Brasil, o tempo tem asas, ele voa, passa
Sem ninguém dar-se contas dele.
Ele passara por mim agora e nem percebi.

Bom, digamos que o tempo tem alguns gostos estranhos.
O tempo passa nos calçadões e corteja as mulheres,
E cumprimentam os homens, que logo cedo
Se embriagando de cappuccino –
Bebida fina que o tempo trouxe para satisfazer
As vontades desses que esqueceram de acordar para a vida.

O tempo não trouxe somente o cappuccino,
Ele trouxe as roupas, os chapéus, os charutos, os colares,
Os brincos, as maquiagens, as gargantilhas,
As penas plumagens, as blusas, as camisetas,
Camisa de botão, tecidos importados.

Trouxe também, as músicas, as poesias, os instrumentos,
Os copos, as xícaras, o plástico, o tecido biodegradável,
O ferro o aço, o lápis apontável, a comunicação, a decoração,
A impressão automática, a imagem na ação.

O tempo trouxe tudo, patenteou seu nome
Em cada exemplar e deu para seus filhos usarem.

O tempo é dono de tudo,
E apegado coisa nenhuma.
Ele gosta mesmo é de se embriagar
E ver-se passar pelo espelho da vida.

E novamente o tempo viaja, voa, passeia,
Caminha, com a minha vida,
E cassua, com a sua.
E ele passa agora cumprimentando
Maria e as crianças pela 12 de outubro
E rezando pelos mortos no cemitério, 2 de novembro.
E agora o tempo está novamente comemorando o natal,
E nem dei por mim que o tempo já tinha passado,
E que ele já iria se embriagar de novo e se esbarrar em mim,
Em ti e em tudo e a todos que puder para mostrar
Que ele nunca para, e que ele esta vivo.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Cinzas do amor

de Cecílio Purcino

Em um quarto escuro
Me deparo com as melhores lembranças,
De um amor conjugado pretérito
E é por esse pretérito amor que vago pelas noites
A tentar voltar para vida e não consigo
As lembranças são mais fortes, mais felizes.

O controle que não tenho sobre elas
É o mesmo que o cotidiano tem sobre mim,
A luz da noite não consegue penetrar sobre meus olhos,
Eles não vêem a vida que tanto via
Mas sim a claridade significativa desse quarto escuro.

Quatro paredes e um espelho
E um reflexo que não conheço
Eu já não era mais o mesmo
Não tinha a fogueira da paixão
Só as cinzas consumadas.

E depois de horas,
Ainda só cinzas e mais cinzas.

Pálpebras fechadas

de Cecílio Purcino

Fechar os olhos
É transportar para o impossível,
Onde o real é apenas sonho.

E como um sonho que nunca
Se cansa de aparecer
Você some na escuridão,
E a única coisa que sobra são as cinzas
Que bate nas faculdades mentais
Nos impossibilita de ser feliz

Mas se fechar os olhos
É transportar para o impossível,
Abrir as pálpebras é ter esperança
De que esses sonhos se realizem

Então abrirei meus olhos.

Reta

de Cecílio Purcino

Uma janela, duas camas.
Somente a dor entre mim
E a escuridão sobre nós.
O escuro mostra-me a impotência
Dos meus olhos sem o que chamas de viver.
Chamas que se apagam com as lágrimas
Do mundo.
Mas com a mesma certeza que tenho
De que a menor distância entre
Dois pontos é uma linha reta,
Eu sigo reto,
Com esperança de achar uma fagulha
Para tentar ascende-las para o mundo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O bolo

de Cecílio Purcino

O bolo é uma mistura de tudo que há em tudo,
Farinha, leite, manteiga, ovos, chocolate, baunilha.
Alguns usam sentido e outros sentimentos!

Existem vários tipos de bolo,
De cenoura, morango, flocos,
Alguns são de abacaxi e hortelã.
Têm bolo de papel, de documentos
De coisas, de dinheiro, de fomento.
Outros são da moça, outros do moço,
Alguns de sensação, outros de sedução.

Todos têm nome:
É bolo de fim de festa, de casamento,
Bolo infantil, artístico, outros são falsos ou até de mentira.
Bolos que comemoram outros que choram,
Mas tem um que é o mais cobiçado.
É o chamado prestígio.

Prestígio só vale para os belos bolos,
Com uma cobertura bem suculenta,
Muita massa e com formas bem formadas,
Não informadas, porque não sabem de nada,
Mas bem formadas,
Formadas de um conteúdo simples, inóspito,
Fútil e frágil.
Eh, Apenas coco, ou seria cocô?
Bom, ainda não sei, estou aprendendo
Agora a fazer bolos da vida.

Mas uma coisa eu observo!
Muitos não vivem sem pelo menos
Um pedacinho de prestígio ao dia.
Seu gostinho venenoso e viciante
Dilacera a razão,
Deixando apenas a alma desesperada,
Sofrendo dias e horas,
Para adquirir essas formas formadas,
E desinformadas.

Pobres imagens retorcidas são os homens,
Querem comer apenas prestígio, sabendo que tem
Tanto outros bolos melhores em outras padarias.
Deveriam prestigiar mesmo eram os bolos
Como os de cenoura, eles sim são ótimos bolos -
Uma leve cobertura de chocolate, mostrando um
Simples toque de beleza, nem mais e nem menos,
E um conteúdo sólido por dentro - pois sou um livro -
Misturado com outros ingredientes essências para,
Saciar a vida das pessoas,dar prazer para outros e
Ajudar a encontrar-se nessa culinária da vida.

Mas esse bolo que decidir fazer nessa madruga
É um bolo diferente.
Ele tem um gosto de tempo passas -
É um tipo de tempo passado coberto por
Cristais de angustia e solidão.

Eh, eu decidi fazer hoje esse bolo!
Peguei a receita em um rótulo de orkut
Um daqueles recados que sempre deixam
Para chamar a atenção dos clientes,
E comecei arquitetá-lo, construí-lo.

Peguei a receita, vi o produto, conferi os requisitos
E comecei a preparar a fôrma.
A receita pedia que eu ligasse para a central de informação
Para agendar a compra de um ingrediente raríssimo,
Ingrediente esse que sempre faz você
Querer melhorar seu visual,
Que você olha e sempre pensa
Nos piores desejos que o ser humano pode ter.
Aquele ingrediente que vêm de fora
De outro estado, típico de capital do Brasil.

O produto tinha acabado de chegar há dois dias.
Veio para prestigiar o natal.

Liguei, liguei para a central de atendimento e o fogo dentro de mim.
Na receita recomenda o forno estar pré aquecido em 180ºC.
Conversei com o atendente e ele me disse que de alguma maneira,
Hoje eu receberia o produto.
Comecei a preparar-me.
Coloquei a melhor forma.
Bati todos os ingredientes,
Untei a fôrma,
E coloquei a massa para assar.
Mas só falta o ingrediente principal.

O relógio esta brincando comigo,
E os dois ponteiros gozam da minha cara.
Não sei se foram eles que correram de mais
Ou meus olhos que adormeceram nos domínios da consciência profunda
Mas já se passaram duas horas das
Duas da manhã.
E nada! Nada do ingrediente dar sinal de vida.
E agora o tempo passou, o bolo embatumou
Já o esfriei e já o comi.
Na cama? É somente eu, a raiva, a angústia,
A solidão e dois pedaços enormes de bolo desprestigiado
Em um sono profundo.

madrugada do dia 27 de Dezembro de 2009

Noite de natal

de Cecílio Purcino

Os sinos badalam,
A missa do galo chama o
Fim de mais um dia,
As crianças já repousam à
Espera do bom velinho barbudo,
E os pais arrumam os presentes,
As estrelas artificiais descobertas
Pela china resplandecem no céu,
Algumas almas estão na rua comemorando,
Outras se embriagando,
Os garotos brincam com as mulheres,
As garotas brincam com os homens,
Mães dão a luz a novos Joões, José’s,
Marias e Beatrizes, e a Jesus,
Estou eu aqui sentado,
À espera de uma fagulha de luz,
Na escuridão de minha alma perdida.
É Noite de Natal!

Madrugada de 25 de Dezembro 2009.

A canção de minha alma

de Cecílio Purcino

Todos nós temos uma canção,
Ou é aquela que os amigos nos ensinaram
Amar, sentados à beira da praia com a
Brisa marinha a bater-se no rosto,
Impregnada de emoção,
Ou quando nos encontramos à borda da orla,
A fazer castelos de areias,
E sonhos com o primeiro amor.

A minha, é a que ninguém ouve.
É a onda que se arrebenta nos cais das lembranças,
Passa pelo meu corpo inóspito e deserto,
Circula pelas correntes marinhas e artérias,
Me faz reviver sentimentos profundos -
Como amar em olhos fechados -
E deságua no oceano imenso de meu coração.

É a sua voz,
Que salta do rumor de minha alma,
Se ancora em meus braços,
E me ensina amar uma canção.

29 de Dezembro de 2009.

A manhã não mudou

de Cecílio Purcino

A manhã não mudara como tinha
Prometido na noite passada.
Os raios de sol são os mesmo,
Dois passando pela fresta da janela -
Um que clareia as folhas desenhadas sobre a mesa
E o outro, que ilumina meu rosto pálido.

E a manhã não mudara nada.
Os pássaros fiéis ao tempo,
Cantam nos cantos das árvores,
O galo anunciara o dia faz quatro horas,
E o cheiro de café corre pelos cômodos da casa.
Tudo parece permanentemente igual.

Nada mudara, eu principalmente.
Não sou planta nem inseto, para ter muda
Em meu nome ou esqueleto postiço
Para me trocar todos os dias.
Eu sou uma constância de vácuo atordoante
Inconstante do que sou e pronto.
A realidade da minha manhã - que é apenas um acaso
Ocasional do futuro consumido em chamas presente - que mude.

Ah, mas sou eu que tenho que levantar e encarar a frio
A manha de minhas manhãs iguais e constantes.

Ah manhã, muda-te, para plantar em minha alma,
Mente e coração fértil um pouco mais de vida,
Para que eu colha um dia deveras.
Não suporto vê-la todos os dias com
A mesma cara e vestes de sempre.

Parta-te hoje realidade em duas,
Para que em uma eu possa vê-la acesa
Derreter em outras formas de cera,
E a na outra verter-te em rio de fogo e ilusão.

Eu me demito dessa vida dúbia.

Ah realidade, dê um tempo para mim,
Alma jovem e cansada,
Eu que desde cedo aparento - me exausto
Como a ti, mãe de todas as manhãs que tenho.

Peço que te transforme em outra coisa, fato ou ficção,
Peço que te moldes em moldura
Ambígua de fotos, imagens e artes cotidianas.

Retifico - te em solidão. Já não basta as mesmas bocas,
Olhos e braços que me tocam olham e falam,
Nada me completa nesse vazio atormentante
Desse dia que tenho fomes e sede do novo.

A partir de hoje, peço permissão para
Chamar-te de ilusão e não realidade,
Pois já não sei mais se sou real ou
É real a ilusão de te viver.

Eu, luto por ti, porque estás morta para mim.
Eu, luto com ti, porque quero que estejas morta por mim.

Não seja a mesma de ontem,
Saia - te para que eu possa vestido de verde
Ver – te verdadeiramente como tu és.
Se divirta - te, tire de ti, férias permanentes do cotidiano,
Seja errante igual a mim.

Levanto da cama.
Os pés calçam as sandálias,
Olho firme para o céu límpido
E radiante, e as têmporas latejam.

Estou vivo, para enfrentar a luz
que ilumina as manhãs.

11 de Janeiro de 2010.

Quem eu sou?

de Cecílio Purcino

Quem eu sou? Eu, quem sou?
Talvez eu seja alguém que sou
Ou talvez sou quem eu seja ser.
Mas eu, o que sou?

Definir-me quem sou, é resolver problemas universais,
Orbitas complexas, corrigir triângulos e retângulos,
Esferas circulares do inconstante ser
Pensante que eu sou.

Mas, quem sou eu?
Pensava eu que sabia,
Pensava talvez que eu era uma criatura
Que atura dentro de um corpo o volume do vazio,
Feito apenas de imagem e ação, de cálcio e carbono,
De átomos atônitos, elétrons quantificados,
Pele, ossos, carnes, unhas, e as mãos
A cabeça para pensar no que sou eu.

O que é o eu?
Duas vogais que meu intelecto precário babuça,
Codificações catalogadas pelo amigo tempo,
Expostas durante a vida para identificar-me
Com quem sou na simples e translúcida
Singularidade da língua portuguesa, o eu.

Decidir quem eu sou é determinar sonhos,
Idéias, instantes dos arquétipos inconstantes das constantes
Dos seres que eu tento ser, e que nem sempre são.

E eu cogito! Penso logo existo,
Mas todos os dias eu penso, escrevo e me remeto a mim
E adentro de mim somente o eu,
Ásperos, volátil e inexistente.
Não sou o que eu penso,
E nem penso o que eu sou.
Eu não sou eu! Não sou nada! Ou talvez seja alguma coisa,
Ou coisa de algum eu por ai andante, pensante.

Quem eu devo ser?
Aliado do sistema corrupto,
Modelos perfeitos de manipulação precária da mente coletiva,
Ardorno, Horkheimer,
Água e sal dentro dessa massa falante, errante, corrupta.

Ah, eu que sou mais e mais, cada vez mais adjunto dessa
Razão que rumina o pobre capim, as plântulas e as notas verdes cem que é,
Eu sou! Sou quem mereço ser dentro de nós, de vós, deles e delas.
Sou vós! Quem e o que mais eu posso ser a não ser vós?

Faço parte dessa vida diária, indiferente, taciturna, maquiada,
Mundo sem leis gravitacionais, translação e rotação insuficiente,
E flutuante pelas ações, sem reações,
Somente as bolsas de valores.

Mais eu sou! Sou celulose imprensada,
Com alguns rabiscos de tinta nanquim,
Texto feito apenas por mim, e mais ninguém.
Sou escritos vivos, andantes, arquétipos pulsantes,
Criado por deus sabe-se lá o que é mais eu.

Ser o poema sem fim, a força erronia de se escrever,
A tentativa de ser o que não sou
Em folhas brancas e árvores verdes
Em papel machê e vegetal, é o que eu sou.

Ser literatura contemporânea é o que faz eu ser é,
E eu sou, e agora me sinto sendo,
Acendo-me, escrevendo.
E depois de sentir-me o que eu sou,
Sabendo que eu nada era antes das palavras.
Pergunto para vós que soa dentro aqui do eu.
Quem é vós?

5 de Janeiro de 2010.