sábado, 12 de junho de 2010

Na morada dos dias

de Cecílio Purcino

O que mais posso esperar de um dia que é dia
Apenas para os outros e nada para mim?
De fato, esse dia só não é nada para mim
Porque não tenho com quem dividi-lo,
Ou melhor, tenho e não quero,
Quero e não tenho.

Na verdade, não tenho
E sou eu que sempre quero me tapear,
Como tapioca no fogo, dizendo que estou bem,
E se tá pior é por que
Eu deixei que fossem.

E se não tenho alguém, é porque mereci.
Não é tão fácil ser assim como eu,
Dia após dia, ano após ano e nada de novo.
Devo ter jogado pedra na cruz e água nos santos,
Devo ter sido aquele que a vida não elegeu,
Devo ser aquele que ninguém escolheu,
Mas fui aquele que sempre escolhi.

E é porque eu escolhi que estou sempre assim,
Sem ninguém para entregar o presente,
Sem ninguém para falar do passado
Sem ninguém para ter um futuro,
E ninguém para comemorar
A páscoa, o natal, os aniversários e
O dia dos namorados.

Hoje estou me sentindo assim, solitário aos milhares,
Sozinho aos prantos e fadado a serpentes,
Pois me passo apenas na cabeça dos outros e
É o que apenas faço.
Ser algo que esta apenas na cabeça dos outros!

E verdade e sem mito,
Se não é assim e não menos assim,
Então me diga!
Por que ninguém tem olhos para mim?

Me diga, então!
Por que tudo passa e sempre passa,
Nada mais que a intenção?
O porquê...

Bom, hoje já faz dias que não tenho dias,
Já faz anos que não sou namorado,
Já faz décadas que não sou aceso,
Já se fez eterno,
Que sou uma tocha fria na concha vazia do amor.

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