quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A manhã não mudou

de Cecílio Purcino

A manhã não mudara como tinha
Prometido na noite passada.
Os raios de sol são os mesmo,
Dois passando pela fresta da janela -
Um que clareia as folhas desenhadas sobre a mesa
E o outro, que ilumina meu rosto pálido.

E a manhã não mudara nada.
Os pássaros fiéis ao tempo,
Cantam nos cantos das árvores,
O galo anunciara o dia faz quatro horas,
E o cheiro de café corre pelos cômodos da casa.
Tudo parece permanentemente igual.

Nada mudara, eu principalmente.
Não sou planta nem inseto, para ter muda
Em meu nome ou esqueleto postiço
Para me trocar todos os dias.
Eu sou uma constância de vácuo atordoante
Inconstante do que sou e pronto.
A realidade da minha manhã - que é apenas um acaso
Ocasional do futuro consumido em chamas presente - que mude.

Ah, mas sou eu que tenho que levantar e encarar a frio
A manha de minhas manhãs iguais e constantes.

Ah manhã, muda-te, para plantar em minha alma,
Mente e coração fértil um pouco mais de vida,
Para que eu colha um dia deveras.
Não suporto vê-la todos os dias com
A mesma cara e vestes de sempre.

Parta-te hoje realidade em duas,
Para que em uma eu possa vê-la acesa
Derreter em outras formas de cera,
E a na outra verter-te em rio de fogo e ilusão.

Eu me demito dessa vida dúbia.

Ah realidade, dê um tempo para mim,
Alma jovem e cansada,
Eu que desde cedo aparento - me exausto
Como a ti, mãe de todas as manhãs que tenho.

Peço que te transforme em outra coisa, fato ou ficção,
Peço que te moldes em moldura
Ambígua de fotos, imagens e artes cotidianas.

Retifico - te em solidão. Já não basta as mesmas bocas,
Olhos e braços que me tocam olham e falam,
Nada me completa nesse vazio atormentante
Desse dia que tenho fomes e sede do novo.

A partir de hoje, peço permissão para
Chamar-te de ilusão e não realidade,
Pois já não sei mais se sou real ou
É real a ilusão de te viver.

Eu, luto por ti, porque estás morta para mim.
Eu, luto com ti, porque quero que estejas morta por mim.

Não seja a mesma de ontem,
Saia - te para que eu possa vestido de verde
Ver – te verdadeiramente como tu és.
Se divirta - te, tire de ti, férias permanentes do cotidiano,
Seja errante igual a mim.

Levanto da cama.
Os pés calçam as sandálias,
Olho firme para o céu límpido
E radiante, e as têmporas latejam.

Estou vivo, para enfrentar a luz
que ilumina as manhãs.

11 de Janeiro de 2010.

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