quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O bolo

de Cecílio Purcino

O bolo é uma mistura de tudo que há em tudo,
Farinha, leite, manteiga, ovos, chocolate, baunilha.
Alguns usam sentido e outros sentimentos!

Existem vários tipos de bolo,
De cenoura, morango, flocos,
Alguns são de abacaxi e hortelã.
Têm bolo de papel, de documentos
De coisas, de dinheiro, de fomento.
Outros são da moça, outros do moço,
Alguns de sensação, outros de sedução.

Todos têm nome:
É bolo de fim de festa, de casamento,
Bolo infantil, artístico, outros são falsos ou até de mentira.
Bolos que comemoram outros que choram,
Mas tem um que é o mais cobiçado.
É o chamado prestígio.

Prestígio só vale para os belos bolos,
Com uma cobertura bem suculenta,
Muita massa e com formas bem formadas,
Não informadas, porque não sabem de nada,
Mas bem formadas,
Formadas de um conteúdo simples, inóspito,
Fútil e frágil.
Eh, Apenas coco, ou seria cocô?
Bom, ainda não sei, estou aprendendo
Agora a fazer bolos da vida.

Mas uma coisa eu observo!
Muitos não vivem sem pelo menos
Um pedacinho de prestígio ao dia.
Seu gostinho venenoso e viciante
Dilacera a razão,
Deixando apenas a alma desesperada,
Sofrendo dias e horas,
Para adquirir essas formas formadas,
E desinformadas.

Pobres imagens retorcidas são os homens,
Querem comer apenas prestígio, sabendo que tem
Tanto outros bolos melhores em outras padarias.
Deveriam prestigiar mesmo eram os bolos
Como os de cenoura, eles sim são ótimos bolos -
Uma leve cobertura de chocolate, mostrando um
Simples toque de beleza, nem mais e nem menos,
E um conteúdo sólido por dentro - pois sou um livro -
Misturado com outros ingredientes essências para,
Saciar a vida das pessoas,dar prazer para outros e
Ajudar a encontrar-se nessa culinária da vida.

Mas esse bolo que decidir fazer nessa madruga
É um bolo diferente.
Ele tem um gosto de tempo passas -
É um tipo de tempo passado coberto por
Cristais de angustia e solidão.

Eh, eu decidi fazer hoje esse bolo!
Peguei a receita em um rótulo de orkut
Um daqueles recados que sempre deixam
Para chamar a atenção dos clientes,
E comecei arquitetá-lo, construí-lo.

Peguei a receita, vi o produto, conferi os requisitos
E comecei a preparar a fôrma.
A receita pedia que eu ligasse para a central de informação
Para agendar a compra de um ingrediente raríssimo,
Ingrediente esse que sempre faz você
Querer melhorar seu visual,
Que você olha e sempre pensa
Nos piores desejos que o ser humano pode ter.
Aquele ingrediente que vêm de fora
De outro estado, típico de capital do Brasil.

O produto tinha acabado de chegar há dois dias.
Veio para prestigiar o natal.

Liguei, liguei para a central de atendimento e o fogo dentro de mim.
Na receita recomenda o forno estar pré aquecido em 180ºC.
Conversei com o atendente e ele me disse que de alguma maneira,
Hoje eu receberia o produto.
Comecei a preparar-me.
Coloquei a melhor forma.
Bati todos os ingredientes,
Untei a fôrma,
E coloquei a massa para assar.
Mas só falta o ingrediente principal.

O relógio esta brincando comigo,
E os dois ponteiros gozam da minha cara.
Não sei se foram eles que correram de mais
Ou meus olhos que adormeceram nos domínios da consciência profunda
Mas já se passaram duas horas das
Duas da manhã.
E nada! Nada do ingrediente dar sinal de vida.
E agora o tempo passou, o bolo embatumou
Já o esfriei e já o comi.
Na cama? É somente eu, a raiva, a angústia,
A solidão e dois pedaços enormes de bolo desprestigiado
Em um sono profundo.

madrugada do dia 27 de Dezembro de 2009

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