domingo, 31 de janeiro de 2010

Cinzas do amor

de Cecílio Purcino

Em um quarto escuro
Me deparo com as melhores lembranças,
De um amor conjugado pretérito
E é por esse pretérito amor que vago pelas noites
A tentar voltar para vida e não consigo
As lembranças são mais fortes, mais felizes.

O controle que não tenho sobre elas
É o mesmo que o cotidiano tem sobre mim,
A luz da noite não consegue penetrar sobre meus olhos,
Eles não vêem a vida que tanto via
Mas sim a claridade significativa desse quarto escuro.

Quatro paredes e um espelho
E um reflexo que não conheço
Eu já não era mais o mesmo
Não tinha a fogueira da paixão
Só as cinzas consumadas.

E depois de horas,
Ainda só cinzas e mais cinzas.

Pálpebras fechadas

de Cecílio Purcino

Fechar os olhos
É transportar para o impossível,
Onde o real é apenas sonho.

E como um sonho que nunca
Se cansa de aparecer
Você some na escuridão,
E a única coisa que sobra são as cinzas
Que bate nas faculdades mentais
Nos impossibilita de ser feliz

Mas se fechar os olhos
É transportar para o impossível,
Abrir as pálpebras é ter esperança
De que esses sonhos se realizem

Então abrirei meus olhos.

Reta

de Cecílio Purcino

Uma janela, duas camas.
Somente a dor entre mim
E a escuridão sobre nós.
O escuro mostra-me a impotência
Dos meus olhos sem o que chamas de viver.
Chamas que se apagam com as lágrimas
Do mundo.
Mas com a mesma certeza que tenho
De que a menor distância entre
Dois pontos é uma linha reta,
Eu sigo reto,
Com esperança de achar uma fagulha
Para tentar ascende-las para o mundo.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O bolo

de Cecílio Purcino

O bolo é uma mistura de tudo que há em tudo,
Farinha, leite, manteiga, ovos, chocolate, baunilha.
Alguns usam sentido e outros sentimentos!

Existem vários tipos de bolo,
De cenoura, morango, flocos,
Alguns são de abacaxi e hortelã.
Têm bolo de papel, de documentos
De coisas, de dinheiro, de fomento.
Outros são da moça, outros do moço,
Alguns de sensação, outros de sedução.

Todos têm nome:
É bolo de fim de festa, de casamento,
Bolo infantil, artístico, outros são falsos ou até de mentira.
Bolos que comemoram outros que choram,
Mas tem um que é o mais cobiçado.
É o chamado prestígio.

Prestígio só vale para os belos bolos,
Com uma cobertura bem suculenta,
Muita massa e com formas bem formadas,
Não informadas, porque não sabem de nada,
Mas bem formadas,
Formadas de um conteúdo simples, inóspito,
Fútil e frágil.
Eh, Apenas coco, ou seria cocô?
Bom, ainda não sei, estou aprendendo
Agora a fazer bolos da vida.

Mas uma coisa eu observo!
Muitos não vivem sem pelo menos
Um pedacinho de prestígio ao dia.
Seu gostinho venenoso e viciante
Dilacera a razão,
Deixando apenas a alma desesperada,
Sofrendo dias e horas,
Para adquirir essas formas formadas,
E desinformadas.

Pobres imagens retorcidas são os homens,
Querem comer apenas prestígio, sabendo que tem
Tanto outros bolos melhores em outras padarias.
Deveriam prestigiar mesmo eram os bolos
Como os de cenoura, eles sim são ótimos bolos -
Uma leve cobertura de chocolate, mostrando um
Simples toque de beleza, nem mais e nem menos,
E um conteúdo sólido por dentro - pois sou um livro -
Misturado com outros ingredientes essências para,
Saciar a vida das pessoas,dar prazer para outros e
Ajudar a encontrar-se nessa culinária da vida.

Mas esse bolo que decidir fazer nessa madruga
É um bolo diferente.
Ele tem um gosto de tempo passas -
É um tipo de tempo passado coberto por
Cristais de angustia e solidão.

Eh, eu decidi fazer hoje esse bolo!
Peguei a receita em um rótulo de orkut
Um daqueles recados que sempre deixam
Para chamar a atenção dos clientes,
E comecei arquitetá-lo, construí-lo.

Peguei a receita, vi o produto, conferi os requisitos
E comecei a preparar a fôrma.
A receita pedia que eu ligasse para a central de informação
Para agendar a compra de um ingrediente raríssimo,
Ingrediente esse que sempre faz você
Querer melhorar seu visual,
Que você olha e sempre pensa
Nos piores desejos que o ser humano pode ter.
Aquele ingrediente que vêm de fora
De outro estado, típico de capital do Brasil.

O produto tinha acabado de chegar há dois dias.
Veio para prestigiar o natal.

Liguei, liguei para a central de atendimento e o fogo dentro de mim.
Na receita recomenda o forno estar pré aquecido em 180ºC.
Conversei com o atendente e ele me disse que de alguma maneira,
Hoje eu receberia o produto.
Comecei a preparar-me.
Coloquei a melhor forma.
Bati todos os ingredientes,
Untei a fôrma,
E coloquei a massa para assar.
Mas só falta o ingrediente principal.

O relógio esta brincando comigo,
E os dois ponteiros gozam da minha cara.
Não sei se foram eles que correram de mais
Ou meus olhos que adormeceram nos domínios da consciência profunda
Mas já se passaram duas horas das
Duas da manhã.
E nada! Nada do ingrediente dar sinal de vida.
E agora o tempo passou, o bolo embatumou
Já o esfriei e já o comi.
Na cama? É somente eu, a raiva, a angústia,
A solidão e dois pedaços enormes de bolo desprestigiado
Em um sono profundo.

madrugada do dia 27 de Dezembro de 2009

Noite de natal

de Cecílio Purcino

Os sinos badalam,
A missa do galo chama o
Fim de mais um dia,
As crianças já repousam à
Espera do bom velinho barbudo,
E os pais arrumam os presentes,
As estrelas artificiais descobertas
Pela china resplandecem no céu,
Algumas almas estão na rua comemorando,
Outras se embriagando,
Os garotos brincam com as mulheres,
As garotas brincam com os homens,
Mães dão a luz a novos Joões, José’s,
Marias e Beatrizes, e a Jesus,
Estou eu aqui sentado,
À espera de uma fagulha de luz,
Na escuridão de minha alma perdida.
É Noite de Natal!

Madrugada de 25 de Dezembro 2009.

A canção de minha alma

de Cecílio Purcino

Todos nós temos uma canção,
Ou é aquela que os amigos nos ensinaram
Amar, sentados à beira da praia com a
Brisa marinha a bater-se no rosto,
Impregnada de emoção,
Ou quando nos encontramos à borda da orla,
A fazer castelos de areias,
E sonhos com o primeiro amor.

A minha, é a que ninguém ouve.
É a onda que se arrebenta nos cais das lembranças,
Passa pelo meu corpo inóspito e deserto,
Circula pelas correntes marinhas e artérias,
Me faz reviver sentimentos profundos -
Como amar em olhos fechados -
E deságua no oceano imenso de meu coração.

É a sua voz,
Que salta do rumor de minha alma,
Se ancora em meus braços,
E me ensina amar uma canção.

29 de Dezembro de 2009.

A manhã não mudou

de Cecílio Purcino

A manhã não mudara como tinha
Prometido na noite passada.
Os raios de sol são os mesmo,
Dois passando pela fresta da janela -
Um que clareia as folhas desenhadas sobre a mesa
E o outro, que ilumina meu rosto pálido.

E a manhã não mudara nada.
Os pássaros fiéis ao tempo,
Cantam nos cantos das árvores,
O galo anunciara o dia faz quatro horas,
E o cheiro de café corre pelos cômodos da casa.
Tudo parece permanentemente igual.

Nada mudara, eu principalmente.
Não sou planta nem inseto, para ter muda
Em meu nome ou esqueleto postiço
Para me trocar todos os dias.
Eu sou uma constância de vácuo atordoante
Inconstante do que sou e pronto.
A realidade da minha manhã - que é apenas um acaso
Ocasional do futuro consumido em chamas presente - que mude.

Ah, mas sou eu que tenho que levantar e encarar a frio
A manha de minhas manhãs iguais e constantes.

Ah manhã, muda-te, para plantar em minha alma,
Mente e coração fértil um pouco mais de vida,
Para que eu colha um dia deveras.
Não suporto vê-la todos os dias com
A mesma cara e vestes de sempre.

Parta-te hoje realidade em duas,
Para que em uma eu possa vê-la acesa
Derreter em outras formas de cera,
E a na outra verter-te em rio de fogo e ilusão.

Eu me demito dessa vida dúbia.

Ah realidade, dê um tempo para mim,
Alma jovem e cansada,
Eu que desde cedo aparento - me exausto
Como a ti, mãe de todas as manhãs que tenho.

Peço que te transforme em outra coisa, fato ou ficção,
Peço que te moldes em moldura
Ambígua de fotos, imagens e artes cotidianas.

Retifico - te em solidão. Já não basta as mesmas bocas,
Olhos e braços que me tocam olham e falam,
Nada me completa nesse vazio atormentante
Desse dia que tenho fomes e sede do novo.

A partir de hoje, peço permissão para
Chamar-te de ilusão e não realidade,
Pois já não sei mais se sou real ou
É real a ilusão de te viver.

Eu, luto por ti, porque estás morta para mim.
Eu, luto com ti, porque quero que estejas morta por mim.

Não seja a mesma de ontem,
Saia - te para que eu possa vestido de verde
Ver – te verdadeiramente como tu és.
Se divirta - te, tire de ti, férias permanentes do cotidiano,
Seja errante igual a mim.

Levanto da cama.
Os pés calçam as sandálias,
Olho firme para o céu límpido
E radiante, e as têmporas latejam.

Estou vivo, para enfrentar a luz
que ilumina as manhãs.

11 de Janeiro de 2010.

Quem eu sou?

de Cecílio Purcino

Quem eu sou? Eu, quem sou?
Talvez eu seja alguém que sou
Ou talvez sou quem eu seja ser.
Mas eu, o que sou?

Definir-me quem sou, é resolver problemas universais,
Orbitas complexas, corrigir triângulos e retângulos,
Esferas circulares do inconstante ser
Pensante que eu sou.

Mas, quem sou eu?
Pensava eu que sabia,
Pensava talvez que eu era uma criatura
Que atura dentro de um corpo o volume do vazio,
Feito apenas de imagem e ação, de cálcio e carbono,
De átomos atônitos, elétrons quantificados,
Pele, ossos, carnes, unhas, e as mãos
A cabeça para pensar no que sou eu.

O que é o eu?
Duas vogais que meu intelecto precário babuça,
Codificações catalogadas pelo amigo tempo,
Expostas durante a vida para identificar-me
Com quem sou na simples e translúcida
Singularidade da língua portuguesa, o eu.

Decidir quem eu sou é determinar sonhos,
Idéias, instantes dos arquétipos inconstantes das constantes
Dos seres que eu tento ser, e que nem sempre são.

E eu cogito! Penso logo existo,
Mas todos os dias eu penso, escrevo e me remeto a mim
E adentro de mim somente o eu,
Ásperos, volátil e inexistente.
Não sou o que eu penso,
E nem penso o que eu sou.
Eu não sou eu! Não sou nada! Ou talvez seja alguma coisa,
Ou coisa de algum eu por ai andante, pensante.

Quem eu devo ser?
Aliado do sistema corrupto,
Modelos perfeitos de manipulação precária da mente coletiva,
Ardorno, Horkheimer,
Água e sal dentro dessa massa falante, errante, corrupta.

Ah, eu que sou mais e mais, cada vez mais adjunto dessa
Razão que rumina o pobre capim, as plântulas e as notas verdes cem que é,
Eu sou! Sou quem mereço ser dentro de nós, de vós, deles e delas.
Sou vós! Quem e o que mais eu posso ser a não ser vós?

Faço parte dessa vida diária, indiferente, taciturna, maquiada,
Mundo sem leis gravitacionais, translação e rotação insuficiente,
E flutuante pelas ações, sem reações,
Somente as bolsas de valores.

Mais eu sou! Sou celulose imprensada,
Com alguns rabiscos de tinta nanquim,
Texto feito apenas por mim, e mais ninguém.
Sou escritos vivos, andantes, arquétipos pulsantes,
Criado por deus sabe-se lá o que é mais eu.

Ser o poema sem fim, a força erronia de se escrever,
A tentativa de ser o que não sou
Em folhas brancas e árvores verdes
Em papel machê e vegetal, é o que eu sou.

Ser literatura contemporânea é o que faz eu ser é,
E eu sou, e agora me sinto sendo,
Acendo-me, escrevendo.
E depois de sentir-me o que eu sou,
Sabendo que eu nada era antes das palavras.
Pergunto para vós que soa dentro aqui do eu.
Quem é vós?

5 de Janeiro de 2010.